23 de ago. de 2014

[ANIME ZONE] Animes & Mangás no Brasil: 20 anos de altos e baixos

Para você mais um ANIME ZONE!



Havia dito no COMENTÁRIO GERAL do início do mês que o ANIME ZONE de agosto seria um pouco crítico. Como promessa é dívida estou aqui para cumprir!

No final de julho de 2014 o governo japonês havia divulgado uma iniciativa de fechamento de sites de stream e download de arquivos de animes e mangás comercializados internacionalmente de forma ilegal. Traduzindo: mais uma tentativa de combate a pirataria virtual. Confira um trecho de uma das muitas matérias veiculadas na web pelos sites especializados em cultura oriental, que falavam sobre isso:


"Em associação com 15 produtoras Anime/Manga o governo japonês revelou que no próximo mês vai iniciar uma enorme operação contra 580 sites estrangeiros que disponibilizam online anime e manga sem a autorização dos detentores dos direitos de autor, focando-se principalmente nos sites que permitem ver os episódios online.
A agência japonesa dos assuntos culturais revelou que só o ano passado os sites chineses do género provocaram uma perda de aproximadamente 560 mil milhões de yens. No dia 1 de Agosto vão começar a ser enviados pedidos de remoção de conteúdos aos operados dos 580 sites e a operação vai colocar também online um site que vai mostrar aos fãs formas legitimas de assistir os seus animes favoritos". 
(FONTE: www.otakupt.com)


Isso criou um grande reboliço em várias comunidades otakus do Brasil. Sim. Nosso país tinha alguns de seus sites na pretensa lista acima citada. Questionamentos como "O que vai acontecer?", ou bravatas do tipo "O Japão não tem esse direito!" foram vistas e ouvidas em um curto espaço de três dias. O prazo apresentado pelo Japão não foi cumprido por nenhum site (pelo menos não no Brasil) o que implica no quê?

Bom, implica que nem mesmo o país com uma política bem encaixada é capaz de deter os processos do espaço virtual, que apresenta-se como um outro mundo, com outras regras. Implica que o consumo da mídia japonesa de entretenimento só cresce no planeta.

Mas implica também que esse crescimento de público não é acompanhado pelos países estrangeiros. O surgimento quase que diário de “sites piratas” só é justificado (isso se você quiser considerar isso uma justificativa) porque os centros culturais de mídia não se interessam em tornar o consumo do conteúdo nipônico mais expressivo. E aqui vou falar mesmo é de Brasil!

Depois do período que Eduardo Miranda (ex-diretor de Cinema da extinta TV Manchete) denomina de “Era de Ouro dos Animes no Brasil” (que vai de 1994 à 1997) nosso país nunca mais manteve um laço tão concreto com a mídia de entretenimento do Japão por meio dos veículos de massa (da televisão). Salvo exceções como Pokémon, Digimon, Yugi-Oh!, nada foi tão expressivo a nível de público como no período da  TV Manchete. Emissoras como Globo, Band e Play TV ainda tentaram estabelecer esse contato, mas, ou o fizeram de maneira ineficiente, ou não souberam discernir que tal produção exige um nível de comprometimento diferente dos cartoons norte-americanos.

As TVs Fechadas são a mesma coisa. A presença de animes em suas programações acontece somente pela ideia de entretenimento por entretenimento. O Play TV, desde quando se voltou para esse segmento, vem tentando construir esse cenário midiático entre público e conteúdo asiático, contudo de forma muito desordenada e inexpressiva.

O que é interessante em tudo isso é que estamos chegando próximo da data matriz para essa relação entre público brasileiro e mídia oriental. Dia 1º de Setembro completa-se 20 anos da primeira exibição de “Cavaleiros do Zodíaco”, que são a pedra angular desta relação. Seja de amor ou ódio. O mais intrigante é ver que nenhum veículo de comunicação aprendeu com a TV Manchete, que mesmo quase falida empreendeu em um negócio arriscado. Se os problemas financeiros e administrativos da emissora não estivessem tão críticos naquele momento, ela estaria até hoje ofertando conteúdo de qualidade para o atual público otaku brasileiro. Afinal de contas vencer a Globo por quase um ano em no mínimo meia hora de programação era quase impossível para qualquer uma nos anos 90!

Sem a Manchete o que nos resta é a internet. E ter esse elemento ameaçado realmente é válido todo o alarde registrado entre os dias 29, 30, 31 de julho. Sabe, nem eu mesmo sei o que faria se perdesse meu acesso aos anime e mangás. Ainda bem que existe grupos que já se ligaram na importância desse tipo de mídia para o jovem tupiniquim. Netflix e Crunchyroll estão trabalhando para fomentar essa lacuna sem precisar intervir ao processo ilegal da coisa. O único problema é que somente 23% da população brasileira têm acesso à internet diariamente, e desse tanto menos ainda podem manter contas em sites como os já citados.

Não podemos esquecer. São vinte anos de uma relação de altos e baixos proporcionados pelas empresas da mídia, mas bem guardados por nós fãs. A cada ano, cada temporada, cada novo título e personagem apenas reafirmamos nosso laço de afetividade. De CDZ até hoje centenas de obras já se tornaram ícones não só para o Brasil, como para o mundo. Shonnen, Shoujo, Echii, Core, Doramas, e até mesmo Hentai (para quem curte). Vivenciamos uma outra visão de gêneros tanto para o cinema, quanto para a televisão ou a literatura. Somos uma tribo unida por uma causa abrangente!

Não sou um visionário, mas vejo que essa turbulência do início do mês serviu para despertar as empresas de comunicação do país. Um exemplo são às editoras especializadas. Os títulos apresentados no Anime Friends 2014 foram muito aguardados para o momento e rapidamente sucumbiram esse temor de perder os fansubers nacionais. Resta saber se isso se tornará rotina ou se foi apenas um rompante de um período que às vezes parece que não voltará mais.



Reflita sobre isso!
Tchau otaku! Até a próxima!



P.S.: Se você está a fim de saber mais sobre essa relação que nós brasileiros mantemos com os animes e mangás japoneses não pode perder o Matsuri 2014! Aqui no Maranhão pela primeira vez, ele, Eduardo Miranda (o "pai dos animes no Brasil") vai estar presente com uma palestra sobre "Cavaleiros do Zodíaco e os anos de ouro do anime no Brasil". É no Centro Pedagógico Paulo Freire / UFMA, em São Luís, dia 22 e 23 de novembro! Vem! Eu vou!



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